Vou tentar retomar as postagens escrevendo roteiros para quadrinhos. As histórias serão baseadas na minha imaginação de como deve ser um quadrinho. Enjoy =]
No calor do inferno, o Urubu realiza seus vôos magníficos. Um canário avistado faz com que plane no ar, intocável, sob a gravidade e sobre o céu. De lado, com as asas estendidas, olha fixamente o canário enjaulado.
O canário – ah! o canário – que já não cantava, que pedia, com seus olhos cansados e sedentos de morte, o fim, que a sobrevivência não iria por deixar assim. Seu instinto o faz cantar a canção mais bela e mais alta que seus pulmões podiam por em melodia. Seu dono, treinado, vinha lhe ver, quando outrora era conveniente - ainda não se sabe para quem - viver de comida e água com mel, pagos com canções de esquecimento.
Dessa vez, seu dono – exausto - não apareceu para rogar pelo esquecimento que aquela canção traria.
Acuado e sem jeito, o canário encolheu-se perto da grade, para o lado em que se sentia longe da janela. O Urubu suspira.
Ele diz:
-Continue cantando essa bela canção meu amigo canário.
-Que queres de mim? Teu pelo preto trar-me-á maus presságios.
-Mas você não sabe quem sou?
-Um abutre.
-Eu sou do novo mundo, diferentemente de você.
- Um Urubu, e nem por isso diferente. Tua raça...
-Me confundindo com a velha guarda... Saiba que eles gostavam de sua própria decadência. Caçar?...pff
-Fazes o que então?
-Me delicio em sentir a decadência.
-Não entendo.
-Eu não caço. Delicio-me com o apodrecimento que a carne e o sangue sem vida podem causar. Deve-se sentir o cheiro de uma bela refeição antes de apreciá-la.
-Por que estas aqui?
-Sua bela melodia foi capaz de me fazer esquecer.
O canário respira aliviado.
-Você tem sorte de saber cantar. Crocitar nem para um réquiem dá. Cante algo fúnebre para mim.
-Minhas canções servem somente para encantar.
-Que pena... Faz algum tempo que não tenho uma canção para acompanhar-me.
-Ora pois! Irás me comer.
-Engana-se. Não passaria de uma boquinha.
O canário se encolhe.
-que farás então?
-Ah meu amigo. Já tenho tempos de cidade e modernidade. É aqui que posso desfrutar das maravilhas do meu potente suco gástrico. Aqui posso usá-lo com todo o potencial que possuo, e com toda a podridão possível.
-Não te entendo. Que queres comer?
-Ah canário. Uma pergunta que se presta. Sua língua nunca iria entender. Veja esses prédios. Não são caças enjauladas?
-Engana-se. Eles que escolherão estar lá.
-é porque você ainda não compreendeu o cheiro.
O Urubu inspira o ar para dentro de suas narinas.
-Não sente o cheiro do sucesso canarinho?
-E sucesso tem cheiro?
-Ah!, meu amigo. Se você soubesse o cheiro que tem.
-Cheiro não mata fome Urubu.
O Urubu sorri.
O Urubu sorri.
-Sua piada é boa, mas não contenho o riso por causa do cheiro. Olhe para aqueles olhos. Olhos que parecem vidros foscos e opacos. Seus buracos exalam decomposição. Todos exibidos e ao alcance do meu estômago. Não conseguem se mover, e não há para onde fugir.
-Mas como irás matá-los Urubu?
-Eles já estão mortos.
-Mortos? eles sabem que estão vivos...
-Só pensam que estão vivos canarinho. Assim como você. Só falta o reconhecimento meu caro amigo. Após isso, existe eu e o esquecimento...