terça-feira, 27 de abril de 2010

Manguetown

            Vou tentar retomar as postagens escrevendo roteiros para quadrinhos. As histórias serão baseadas na minha imaginação de como deve ser um quadrinho. Enjoy =]

            No calor do inferno, o Urubu realiza seus vôos magníficos. Um canário avistado faz com que plane no ar, intocável, sob a gravidade e sobre o céu. De lado, com as asas estendidas, olha fixamente o canário enjaulado.
            O canário – ah! o canário – que já não cantava, que pedia, com seus olhos cansados e sedentos de morte, o fim, que a sobrevivência não iria por deixar assim. Seu instinto o faz cantar a canção mais bela e mais alta que seus pulmões podiam por em melodia. Seu dono, treinado, vinha lhe ver, quando outrora era conveniente - ainda não se sabe para quem - viver de comida e água com mel, pagos com canções de esquecimento.
            Dessa vez, seu dono – exausto - não apareceu para rogar pelo esquecimento que aquela canção traria.
            Acuado e sem jeito, o canário encolheu-se perto da grade, para o lado em que se sentia longe da janela. O Urubu suspira.

            Ele diz:

            -Continue cantando essa bela canção meu amigo canário.
            -Que queres de mim? Teu pelo preto trar-me-á maus presságios.
            -Mas você não sabe quem sou?
            -Um abutre.
            -Eu sou do novo mundo, diferentemente de você.
            - Um Urubu, e nem por isso diferente. Tua raça...
            -Me confundindo com a velha guarda... Saiba que eles gostavam de sua própria decadência. Caçar?...pff
            -Fazes o que então?
            -Me delicio em sentir a decadência.
            -Não entendo.
            -Eu não caço. Delicio-me com o apodrecimento que a carne e o sangue sem vida podem causar. Deve-se sentir o cheiro de uma bela refeição antes de apreciá-la.
            -Por que estas aqui?
            -Sua bela melodia foi capaz de me fazer esquecer.
           
            O canário respira aliviado.

            -Você tem sorte de saber cantar. Crocitar nem para um réquiem dá. Cante algo fúnebre para mim.
            -Minhas canções servem somente para encantar.
            -Que pena... Faz algum tempo que não tenho uma canção para acompanhar-me.
            -Ora pois! Irás me comer.
            -Engana-se. Não passaria de uma boquinha.
        
O canário se encolhe.

             -que farás então?
            -Ah meu amigo. Já tenho tempos de cidade e modernidade. É aqui que posso desfrutar das maravilhas do meu potente suco gástrico. Aqui posso usá-lo com todo o potencial que possuo, e com toda a podridão possível.
            -Não te entendo. Que queres comer?
            -Ah canário. Uma pergunta que se presta. Sua língua nunca iria entender. Veja esses prédios. Não são caças enjauladas?
            -Engana-se. Eles que escolherão estar lá.
            -é porque você ainda não compreendeu o cheiro.

            O Urubu inspira o ar para dentro de suas narinas.

            -Não sente o cheiro do sucesso canarinho?
            -E sucesso tem cheiro?
            -Ah!, meu amigo. Se você soubesse o cheiro que tem.
            -Cheiro não mata fome Urubu.

O Urubu sorri.

            -Sua piada é boa, mas não contenho o riso por causa do cheiro. Olhe para aqueles olhos. Olhos que parecem vidros foscos e opacos. Seus buracos exalam decomposição. Todos exibidos e ao alcance do meu estômago. Não conseguem se mover, e não há para onde fugir.
            -Mas como irás matá-los Urubu?
            -Eles já estão mortos.
            -Mortos? eles sabem que estão vivos...
            -Só pensam que estão vivos canarinho. Assim como você. Só falta o reconhecimento meu caro amigo. Após isso, existe eu e o esquecimento...

2 comentários:

Anônimo disse...

Toshiooo,
ainda bem q vc voltou a postar!

Qual a diferenca entre o abutre e o urubu??? rs

Abracos

Anônimo disse...

Toshiooo,
ainda bem q vc voltou a postar!

Qual a diferenca entre o abutre e o urubu??? rs

Abracos