Liga a TV e roí as unhas. Nada melhor que emoções em terceira pessoa. Mas a bandeira tinha que ser justa a do São Paulo? Técnico falando sobre amor na televisão?
-No amor e no futebol não há razão- o marido havia sepultado isso no clássico da outra semana.
Ela desliga. Era muito forte para ela, abre a janela na varanda e fuma o cigarro. Suspira. Tenta fazer algo na cozinha, abre a geladeira, Sorvete! sabor morango, era época.
Pensa em como é bom fantasiar que é para sempre. Adorava pensar isso antes de casar. Não se contem e volta para a sala. Sente falta de ter sentimentos como este, se identifica com o seqüestrador. Loucuras de amor faziam falta na sua vida.
A menina volta? Não volta, ela torce. Pensa em seu marido, e pensa se mataria por paixão. Agora não, mas antes da aliança sim. Entendia o rapaz. Ele não era belo, não ia ter futuro, e tudo que podia fazer era apontar a arma na cabeça da amada e pedir um beijo apaixonado. A gente se agarra ao que pode ter.
Ela voltou. Sonia agarra a audiência, tem vontade que aquele momento nunca acabe. A terceirização nunca teve época melhor. Acha uma falta de vergonha esse show barato, mas não consegue deitar de tão incomodada que está. A consciência se confunde, quem é quem, e o que é o que.
Vê a foto das meninas na TV, uma era bonita, a outra tinha a boca grande demais. Não era a toa que ele desconfiava dela. Não agüento mais, Não agüento mais. Torturas psicológicas, ele pergunta aonde quer que seja o tiro.
-Invadi! Invadi caralho.
Barulhos de fogos de artifício. A vitíma olha para baixo. O assasino era seu Pai. Seu Pai.
Loucuras da vida.
Glória à USP
Há 15 anos