Queria ser Amelie Poulain, francesa, e com a testa aparecendo por causa do corte de cabelo. Procurou um namorado para que pudesse fazer jogos e surpresas, e tentava salvar o mundo para ele se lembrar dela.
Só não achava uma coisa: um jeito de relaxar. Tentou jogar pedras no lago, estourar bolhas de plástico, e beber. Falhou.
Não achando sua válvula de escape, se descontenta com o mundo. Ele não era verde e vermelho vibrante, nem tão vivo como no filme, e é claro, o orgasmo não a fazia gritar. Via pessoas falando sobre o cigarro e como esse fazia elas relaxarem. Pensou em Amelie.
A primeira foi um desastre, tossiu e achou aquilo com gosto de esgoto. No entanto, estava desesperada para escapar e se desmanchar do mundo. Na quinta vez a fumaça fez cócegas em sua garganta. Era isso! Seus ombros relaxaram e o mundo adquiriu cores novamente.
Começa a fumar freqüentemente, constantemente, alucinadamente. E durante o dia inteiro procurava uma maneira de inspirar fumaça.
Chega o inverno. Seus lábios mais secos que o normal e o contato com o papel. Acabaram por rachar. Passou a mão no lábio e viu seu sangue: Vermelho! Achou linda aquela cor, e para comemorar acende outro cigarro, este também mudava de cor, se humanizava com seu sangue. Tudo era lindo.
O sangue estancou, as feridas aumentaram, e seu lábio virou roxo. Gostava era do vermelho vibrante, e não do roxo doentio. Usava batons carregados, e para disfarçar, usava um lenço verde e óculos escuros. Amelie parecia uma vadia.
Apesar de fumar e ter um escape temporário da realidade, não escapava da memória do primeiro arranhar de garganta. Queria sentir aquilo novamente. Tentou cigarros de palha, esquentar o tabaco numa fogueira, mas o mundo conspirava contra ela.
Acabaram seus cigarros e foi comprá-los. Usou seu carro, era melhor que uma motocicleta, e a Amelie perdoaria seu meio de condução. Ele enguiça. Gira a chave com mais forca, estava perturbada e fora do controle. Ouve um barulho alto de explosão. Sai do carro e vai conferir atrás. Olhava a fumaça preta do escapamento e delirava. Precisava daquilo. Olha para os lados para ver se alguém estava olhando; não gostava de ser interrompida no seu momento de relaxar.
Tudo bem. Respira fundo.
Bota a boca naquele cano, lembra do gosto de esgoto daquele dia. Lembra da fumaça acariciando suas papilas gustativas. Lembra de Amelie jogando pedras no lago. O mundo não lembra dela.
Teve uma morte tranqüila.
Glória à USP
Há 15 anos
4 comentários:
caramba! muito bom, michael!!
e pra postar lá no outro, é só entrar com o login da trupe... o login e a senha tão lá no tópico "AHAA" da comunidade
nossa!
nossa!
um amigo disse... p/ eu ler.. pq ele disse q lembrou d emim... AHahuAHUUHa
nossa!!!
Primeira vez que passo por aqui.
Adorei o texto! Viagemm totaaal... Muito bom.
O filme ilustrou muito bem o teu texto!
Parabéns!
Fica o convite para conhecer o Sina Nossa e o Contos e Confissões.
Beijão e até mais.
Mikonz...
A Amelie é uma tonta!!!
Sou muito mais a Macabéia!!!!
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