quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O Velvet Underground e o Ipod.

Gabriela tinha 15 anos e era tímida, e nunca pedia o que queria ganhar no natal. Dado natal ganhou um Ipod. Nem gostar de música gostava, na verdade. Para não aborrecer seus pais, pegou os discos velhos de bossa nova e ouvia no caminho para a escola. Na escola, sentava no canto, perto da porta, assim saia mais rápido da sala quando a aula terminasse, e quem entrava na classe não podia a ver, afinal, estava atrás da porta. Um dia, Raúl, um cara que ela odiava, sentou ao seu lado, viu seu ipod, e sugeriu que ela ouvisse a banda que estava estampada na sua camiseta, que tinha usado por três dias seguidos, pensou ela. Ela fez que sim com a cabeça, mas nem prestou atenção. Prestativo, e sabendo que nada ia acontecer, Raúl grava um cd para ela passar para o Ipod. Apesar de odiá-lo, não queria que ele a odiasse, e pôs as musicas no seu ipod.
Numa bela manhã, ligou seu ipod, clicou no Random, e soube pensando que sabia, ela era Rockeira. Logo, começou a beber.
Completou 18 anos, e entrou na faculdade de história. Saiu nas ruas de São Paulo em busca de seus sonhos, e caiu na Rua Portugal. Na aula do dia seguinte, de ressaca, descobriu que Mussolini não veio ao Brasil porque sua esposa estava grávida, e que Hitler queria, no fundo, ser um artista. Num momento de epifania, pensou, quero ir para a Europa. Lembrou do dia que estava em busca de seus sonhos, e que caiu na Rua Portugal, portanto, Portugal será.
Chegou lá, não achou nada demais. Numa noite, cedendo a pressões de amigos foi a balada. Tocou Rock. Viu Raúl no MSN e disse: Aqui tem balada de Rock, e dormi as 7 da manhã.
Dali em diante, nada mais importava; sabia: “Sua vida tinha sido salva pelo Rock’n’Roll”; e pelo Ipod com sua função Random.

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